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As fotos de Edu Marin Kessedjian funcionam como metáforas da própria fotografia, ou da natureza desse procedimento que tudo congela, que tudo torna estático.

Mas elas não se resumem a corretos exercícios de metalinguagem. O alcance metafórico ou alegórico da produção de Marin não se esgota nessa relação direta entre suas fotos e a própria condição da fotografia. Considerando que a fotografia também pode ser documento, essas fotos atestam o processo de degradação de um complexo portuário, especificamente aquele pertencente à cidade paulista de Santos, objeto de atenção do fotógrafo. Interessado na reflexão poética sobre as marcas deixadas pela passagem do tempo, Marin registrou no porto santista, e em seus arredores, índices precisos da decadência que ora tende a tomar conta de grande parte do local, antes ativo e efervescente. No sensível processo de documentação dessa suposta inexorabilidade da degradação e do fim, o fotógrafo transforma aquelas imagens em alegorias da decadência de um projeto. Não propriamente a decadência de um determinado complexo portuário, mas a degradação final de tudo o que aquele lugar um dia representou para o Brasil. Essas ruínas que nos apresenta o artista não são apenas alegorias da própria fotografia, ou da decadência do Porto de Santos, mas podem ser interpretadas como emblemas de um determinado projeto de país, transformado em guindastes ou numa hélice paralisados e em decomposição. O caráter ruinoso dessa série de fotos não está apenas nas imagens escolhidas, mas igualmente em seu tratamento e resolução material. Ao escolher procedimentos que garantissem o máximo de durabilidade para sua produção, o artista preferiu entranhar no processo de ampliação e fixação das imagens escolhidas para a mostra, a iminência de sua breve destruição ou desaparecimento: as imagens foram reveladas e ampliadas convencionalmente, posteriormente digitalizadas e depois reimpressas numa impressora de grande formato, apropriada para a reprodução de plantas de arquitetura. Essa característica da impressora a princípio não a tornaria apropriada para imprimir imagens fotográficas. Concebida mais para a reprodução de linhas, ela leva para a imagem final certas interferências que poderiam ser entendidas como "incorreções". No entanto, esses problemas foram incorporados poeticamente por Marin ao absorvê-los como ajuda para uma representação mais contundente da destruição das imagens que havia captado. Junte-se a esse uso de uma máquina impressora "inadequada" a impressão final das imagens fotográficas em folhas de papel sulfite sem nenhuma preocupação com a preservação física das imagens resultantes. Condenadas ao desaparecimento físico, essas fotografias estabelecem uma cumplicidade dolorosa com as imagens que representam.

 

 

(texto do folder da individual realizada dentro do projeto Mezanino de Fotografia no Instituto Itaú Cultural, 2004)

 



 

 



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