top of page

Silêncio

 

Existe calma aparente nas imagens de Edu Marin. Mas também existe suspense. Como se algo estivesse pronto para acontecer, como a calmaria que antecede as tempestades. Está tudo quieto, mas é aparente. O ensaio “barcos em terra como metáfora de nada ou suave é a luz que corta a madrugada” nos apresenta fotografias que são feitas usando baixas luzes, tudo muito escuro, várias tonalidades de cinza, de preto, pouco branco, pouca luminosidade. O vazio já se tornou uma constante em seus trabalhos. O homem não aparece em suas fotografias, mas podemos sentir sua presença nos artefatos, nas formas, em uma natureza que ele transformou.

 

Nada é óbvio, nada é evidente, muito menos escancarado. À primeira vista, são imagens desconcertantes. Formas simples, barcos, pranchas de windsurf, remos. Elementos que se modificam pelo olhar sutil de Edu Marin e deixam de ser o que são para se transformar em sombras, volumes, esculturas de luz. A escolha de trabalhar em preto e branco também é significativa neste mundo digital em que a cor se coloca de forma imperiosa e, muitas vezes, agressiva. Em um mundo de pressa, de agitação, em que mensagens gritam e se sobrepõem para se tornar cada vez mais visíveis, o artista escolhe o caminho contrário. Nada é dito, tudo é sugerido. Sim, existe silêncio em suas imagens. Um ponto e vírgula, um momento em que podemos parar para enxergar.

 

Parece que as imagens estão ali prontas para ser decifradas, mas são fotografias que não se decodificam em um primeiro e rápido olhar. Aliás, esta continua sendo uma das vantagens da fotografia: o tempo que é nosso, que nos pertence, e assim podemos ficar presos a uma única imagem pelo tempo que quisermos. São assim essas fotografias, pequenos detalhes, pequenas luzes, e de repente, como em uma epifania, as fotografias se revelam ao nosso olhar. A nostalgia se apodera de nós, a lembrança de algo épico, arquetípico, que nos leva à reflexão.

 

As fotografias são feitas com uma câmera digital pequena, simples, com a qual costumamos registrar momentos. O acaso que se incorporou à linguagem. Parece, mas não é. O que encontra no caminho ele recompõe, constrói, um olhar atento que percebe as sutilezas da luminosidade. O famoso fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson costumava dizer que “quem procura não acha”. E é desta maneira que parece que as fotos de Edu Marin foram feitas: como um andarilho que se permitiu o prazer do acaso, do encontro fortuito, da imagem que estava ali e se oferecia generosa para quem se propusesse a olhá-la.

 

 

(texto sobre o trabalho "Barcos em Terra Como Metáfora de Nada")

bottom of page